segunda-feira, 29 de junho de 2015

Meu Primeiro Inverno Separada

Look do Dia, bolero vermelho

Acho que estou numa fase vermelha, é rasteinha, é bolero... Será que a rasteirinha está para a menina do sapatos vermelhos assim como o bolero está para chapeuzinho vermelho?!

Uma vez li, não me pergunte onde, que o vermelho nas histórias infantis é um simbolismo a passagem para a vida adulta que a menstruação provoca na vida de uma menina. O vermelho da maçã da branca de neve, o sangue no dedo da bela adormecida, etc.

Esse bolero veio de um reino chamado Saara, área comercial popular do Rio de Janeiro. Foi numa daquelas lojas que as roupas ficam em caixa com um manequim no meio. É quase uma agulha no paliteiro. Mas o anúncio de R$10 ressignifica todo o caos do cenário.

Estava grávida da caçula quando comprei, ele poderia estrategicamente nos acompanhar em diferentes fases. Ele daria cor aquele vestido cinza comprado no Supermercado Extra que no meio das compras domésticas nem lembro quanto foi. Não amo as roupas do supermercado a não ser pelo fato delas não darem bolinhas depois de muito usadas. 

Viajava 35km da casa até o trabalho, depois mais 35 do trabalho para casa. Tempo era um artigo de luxo. Tudo tinha que ser combo, 2 em 1. Talvez se não fosse a convenção do atentado ao pudor andar nú eu já tinha entrado em abstinência desse negócio de roupa.

" Se Deus quiser um dia eu quero ser índio, viver pelado pintado de verde num eterno domingo... Tão banal assim como um pardal  meio de contrabando, desviar do estilingue. Deixar que me xingue..." .

O bolero tem poucas memórias por enquanto... é só o seu segundo inverno. 

O inverno aqui no Rio deixa a cidade meio vazia se comparado ao fluxo do verão. Deve ser o efeito da formiga que trabalha no calor para estocar comida para o inverno.

Inverno é o mês do meu aniversário, retrospectivas são imenssuráveis e involuntárias. Em 2015 será meu 32o. inverno. O primeiro inverno da caçula, o 4o. inverno da mais velha, meu primeiro inverno separada.

 Descobri que o aquecedor que usei no parto da caçula tem potencial. Na aquecedorlândia posso até brincar de índio sem sentir que é inverno.

Quando o aquecedor não funciona, gosto de tomar café com leite. O preto do café me acorda de um jeito único quando mistura o aconchego do leite. Dá um gosto de quero mais.

Fiquei com gosto de quero mais em amamentar a caçula, foram só 10 dias. A mais velha foi quase um ano e meio. Da série #pérolas da Serena um dos poucos dias que me viu amamentando sua irmã ela perguntou se o leite seria de chocolate. Deve ter sido influência do pai ensinando a música do tema do TimMaia.

Imagino que muitos gostem do chocolate, mas tenho preferido o café com leite. Ele nem sempre tem o mesmo gosto. As vezes o despertar do preto do café é mais forte e domina o aroma. As vezes não, é o aconchego do leite que predomina. Há quem chame isso de média. Descobri que a média pode ser medida de várias formas. E não tem época melhor para o café com leite do que no inverno. Lembrei que em brincadeira de criança café com leite significa uma proteção especial...




quarta-feira, 24 de junho de 2015

Somos marrons com muitos cabelos amarelos

Como a Alcione, eu e minhas crias somos marrons.


  É como marrons que Serena, minha filha mais velha, nos chama.


Aos olhos da Serena somos um grande livro de colorir e não um mundo de 50 tons de cinza. 
Serena não gosta quando pego uma foto nossa e transformo em preto e branco. 
Ela diz claramente: "-Não gosto de cinza mamãe, quero marrom!".
 #pérolasdaserena

Eu e a irmã mais nova da Serena, MelPaz

Na escola da Serena tem 2 amigas que tem pai marrom e mãe não marrom.  Pelo que percebi, na escola da Serena, ela e sua irmã, são as únicas com família marrom incluindo mãe, pai, avós e bisavós.


Na escola da Serena há duas cuidadoras marrons, mas nenhuma professora primária marrom. O professor de capoeira e a professora de ballet são quase marrons. 

O professor de música é marrom. Ele diz que quando dá aula a irmã caçula da Serena lembra da página do facebook "Pretinho do Poder".

Serena na Aula de Música

Mesmo tendo em comum serem músicos marrons, o professor e o pai da Serena não se conhecem.



O pai da Serena é trompetista em uma Brass Band. Traduzindo seria ''banda de bronze''. O bronze significa os instrumentos de metais: trompete, saxofone, tuba e trombone. É banda grande, varia de uns 13 ou 15 músicos. Todos homens numa média de 30 e 40 anos. A maioria do eixo Rio-São Paulo dentre 2 estrangeiros que saíram da banda ao voltarem para sua terra natal. 

Quando alguém queria saber quem era o pai da Serena tinha um jeito fácil de achá-lo: ele é a única pessoa marrom da banda.

Os Bronzes Voadores


Orquestra Voadora toca Michael Jackson antes mesmo de sua morte. Não sei defenir a cor do Michael.




Serena costuma ir nos ensaios da orquestra junto com o pai desde muito pequena.



Em casa Serena gosta de brincar com o teclado do pai.



O pai da Serena tentou me ensinar a tocar trompete, mas não consegui. Muitas mulheres começaram a tocar alguns bronze também e formaram uma brass band só de mulheres: "Damas de Ferro". E não há nenhuma pessoa marrom em Damas de Ferro​.


Nos 5 carnavais que acompanhei o eclético repertório do Voos da Voadora​, que não toca só músicas de sua autoria, as músicas de mulheres eram poucas. Madonna com "Material Girl" tocada pouco em 2009. E Rita Lee, via Mutantes, com "Top Top'' que já era um clássico do voadores. E a trilha de Hair Aquarius interpretada por uma mulher, apesar do filme do protagonista ser masculino.

Ficaram de fora do check-in dos voadores Amy, Piaf, Cássia Eller, Betânia, Gal, Gadú, Pitty, Jane Joplin, Nina Simone, Vanessa da Mata, Malu Magalhães, Zizi Possi, Margaret Menezes, Teresa Cristina, Roberta Sá, Simone, Sandra de Sá, Paula Lima, Alcione, Martinália, Fernanda Abreu, Maria Rita, Elis, Céu, Bete Carvalho, Zélia Duca, Nana Cayme, Carmem Miranda, Tati Quebra Barraco, Daniela Merculy, Elza Soares, Sandy, Vanessa Camargo, Fafá de Belem, Xuxa, Luiza Possi, Baby do Brasil, Elba Ramalho, Anita, Ivete Sangalo, Claudia Leite, Paula Toller, Ana Carolina, Clara Nunes, Dona Ivone Lara, Kelly Key, Gabi Amarantos, Luciana Mello, Moinho, Preta Gil, Shakira, Britiney S., Christina Agilera, Pink, Vanderléia, Marisa Monte, Alanis Morissette, Courtney Love, Tina Tunner, Beyoncé, MC Ludmila, Valeska, Lady Gaga, As Frenéticas, Moinho, Spice Girl... nenhuma dessas intérpretes e autoras tiveram suas obras consideradas ecléticas para o repertório da Orquestra Voadora.

Tenho curiosidade em conhecer o repertório de um show das bronzes de Ferro...

Serena começou a gostar de flauta. E na hora de tocar ela não se coloca no clássico palco italiano. Serena faz cortejos pela casa, bem como ve seu pai fazendo.



Vou procurar a flauta para Serena levar na escola na hora da novidade (levar brinquedo de casa).

Serena com sua professora na escola

Serena diz quase que como um segredo engraçado que o cabelo de sua professora é amarelo. Serena conhece outras pessoas não marrons, mas que assim como nós marrons a maioria tinha cabelo em algum tom de preto. E é o amarelo que a intriga. Até quando me vê conversando com alguma amiga de cabelo amarelo ela também expressa uma curiosidade... 

E ela nunca viu, mas eu mesmo sendo marrom já tive cabelo amarelo!

Eu fantasiada de Paquita





Tinha uma Tia da limpeza na escola da Serena que fazia penteados lindo na minha filha, mas ela foi embora. Gosto da nova Tia da limpeza, ela me pediu o contato do salão onde cuido do meu cabelo. Todas essas duas tias da limpeza são também marrons...

Passei para a Tia da limpeza o contato do meu salão: Rapunzel Fashion Hair​. Não, não é uma licença poética, o salão realmente se chama Rapunzel.



A dona do Rapunzel tem cabelo amarelo e não é marrom. A sua funcionária que faz meu cabelo é marrom e canta como ninguém a trilha sonora do ''Guarda Costa'' (aquele filme com a protagonista marrom e atriz falecida). A sua voz é linda, parece profissional, mas ela brinca que não conhece a letra em inglês e que improvisa para cantar. Não sei se ela sabia que eu apesar de ter tido diversos incentivos acadêmicos financiado em sua maioria pelos meus pais, nunca me dediquei a aulas de inglês para além do intermediário. 

Minha cabelereira gosta mesmo é de cantar na igreja que frequenta. Assim que ela falou isso lembrei de uma outra atriz que canta em um filme. Era o "Mudança de Hábito" com uma atriz marrom protagonista em que seu personagem cantora sem querer vai parar em uma igreja. 

E justamente na época que conheci minha cabelereira cantora, foi a época que teríamos uma versão brasileira teatral do filme. E que a atriz da versão original só liberou os direitos autorais para a adaptação desde que fosse mantido a protagonista ser de uma atriz marrom.

Karin e Whoopi divulgando a remontagem e com seu grupo juvenil

Karin foi a atriz selecionada para a versão brasileira. Ela integrava um grupo musical só de mulheres adolescente chamado "Rouge". Eram 5 cantoras, das quais duas eram marrons.



Em "Pé na Cova", Karin era coajduvante. Ela era coadjuvante, mas não era a única pessoa marrom no elenco. Mart´nália interpretava uma mulher marrom que gosta de mulheres. Mart´nália também cantava a música de abertura no programa. Este produto dirigido por uma mulher (Cininha de Paula)  e escrito por um homem (Miguel Falabela). Esse mesmo autor e essa mesma diretora, depois de "Pé na Cova", fizeram o "Sexo das Negas" onde Karin foi 1 das 4 protagonistas marrons. 

Trabalhei com Karin só uma vez grávida da irmã mais nova da Serena dando apoio em "Pé na Cova".

Meu nome é Frida Renfro, sou continuísta. Eu não apareço na frente das câmeras. Sou um daqueles nomes que aparece subindo no final do programa. Como nessa cena digna de uma dama de ferro no Clandestino. Produto descontínuo me fez imaginar como as continuístas de Lost se sentiram. rs



Eu e Serena na visita ao CGP Central Globo de Produção.
Visita que só funcionários tem direito.
Esse ano, em 2012,
 assinei meu primeiro contrato de funcionária por tempo determinado.



Eu e uma Claquete, 
um símbolo forte da minha função



 Minha formação é segundo grau técnico em publicidade, bacharel em cinema e pós graduação em roteiro para cinema e televisão. Eu decidi fazer cinema na 6a. série quando uma amiga da escola me falou que existia uma faculdade de cinema.



Parte dos meus amigos na Escola Técnica em Comunicação


Parte dos meus Amigos da Turma do Bacharel

Foto anual dos meus amigos da 6a. série





Na minha turma da pós éramos 3 pessoas marrons. Dessas 3 eu era a única mulher.

Nenhum dos meus mestres da pós graduação, dos quais sou muito grata, eram pessoas marrons. Bem como na escola da Serena...

A coordenadora da minha pós era uma mulher. Ela fez seu legado acadêmico com os seus dois filhos pequenos.

Na minha turma da pós éramos 8 mulheres. Dessas 8, metade eram mães. Dessas 4, metade eram mãe de criança com menos de 2 anos.

Parte dos meus amigos da Pós Graduação



Eu e a única outra mãe com crias menores que 2 anos, no primeiro módulo da pós, conversávamos sobre como ainda termos leite e como era sentir o leite empedrando enquanto estávamos nas 10 horas de aula quinzenal que fazíamos.

Essa minha colega também tinha uma menina que não é marrom, tem cabelo amarelo e olhos azuis. Ao conhecerem nossas filhas no churrasco de confraternização do final da pós lembro que alguém falou que a Serena ser a mini Frida dentre outros simpáticos elogios. Já sobre sobre a filha da minha colega conversamos como seria fácil colocá-la no mercado publicitário como modelo infantil por causa de seus cabelos amarelos e olhos azuis. Mas até onde sei essa minha colega aceitou o elogio sem necessariamente incorporá-lo na prática.






Fiz mais televisão do que cinema. Fiz dois longa metragens. Um deles premiado no festival do Rio.



Foi a tal época que tinha cabelo amarelo. Não sabia mas minha futura coordenadora da pós era quem dirigia o programa chamado "Estúdio Móvel". Era no canal educativo, um programa jovem. Apresentado por uma mulher de cabelo amarelo, mas não a conheci.  Minha entrevista foi um quadro a parte sobre curiosidades de profissões.

Ilustrei o que faz a minha função. Postei na minha conta no You Tube. Vira e mexe recebo contato por causa desse vídeo. Um deles era para fazer um tcc numa faculdade de cinema em outro estado sem ser aqui no Rio. Era uma mulher. Era uma mulher marrom.





Estou na globo desde 2007. Estamos em 2015. Nunca fui entrevistada lá. Só apareço nos bastidores no corre de alguma matéria para o "Vídeo Show". Como quando "Tapas & Beijos" fez 100 episódios.



Eu e as Protagonistas do Tapas e beijos 
na confraternização dos 100 episódios



Em tese minha função faz parte da equipe de direção de produtos de ficção da Rede Globo​. Minha função é muito técnica, não mando em nada. Eu sou continuísta, mas fico ali junto da equipe de direção.


Eu e meus papéis de continuidade.
Shopia Scharlote como Angelina,
personagem adolescente grávida
Malhação 2008


Num set da Malhação em 2009 tínhamos um moço da limpeza marrom. Ele era técnico em contabilidade, mas ali no set era o moço da limpeza. Um dia ele me chamou no canto para dizer que estava orgulhoso de ver um cena atípica no projac. Duas pessoas marrons na equipe de direção. Eu mulher continuísta e o homem diretor Luiz Antonio Pilar​.

Na pressa do corre, de que só quem já fez parte da equipe de Malhação sabe o que é, não me dei conta daquela observação. E realmente. Estou desde 2007 em oficina e prestação de serviço como continuísta no projac, entre indas e vindas de contratos, terceirizada e funcionária por tempo determinado. E não... nunca mais gravei com outra pessoa marrom na equipe de direção. Seja homem ou mulher.


Um dia eu apareci no ego, numa foto de paparazzo. Não dá para ver, mas estava grávida da Serena.


Era um quadro especial para o dia dos pais no Fantástico, baseado num livro de humor com foco narrativo da paternidade. O autor era um pai marrom Héli de La Penna. Hélio era a única pessoa marrom no grupo de humor que o lançou "Casseta e Planeta Urgente", um grupo de muitos homens e só uma mulher. Quando o grupo começou seus integrantes tinham uma média de 30 a 40 anos.

Os intérpretes protagonistas tinham em comum serem filhos de dois famosos. Bruno filho do Chico Anísio. Gabriela filha da Regina Duarte. O Chico e a Regina são atores com cores muito diferentes da engenheira Célia e o químico Guaraci, meus pais marrons.


Hélio narrava os episódios e acompanhou praticamente todas gravações. Fez um making off. Até tirou foto da minha mão marrom segurando a claquete. Fui ver a data, ontem fez 4 anos desse set.




Como a claquete mostra quem dirigiu foi o Ian Sbf, um colega da faculdade de cinema. Tinha muito tempo que não nos víamos, apesar de sermos vizinho na época que morei no Catete.


Ian não é marrom. Ian ficou pouco tempo na globo.

Ian hoje em dia é um dos criadores de um site de vídeos de chamado "Porta dos Fundos". Pelo que acompanho das fotos da equipe de criadores do porta são todos homens numa média de 30 a 40 anos.

Nem mesmo pela porta dos fundos há pessoas marrons dentre eles.

João Vicente, Fábio, Gregório, Ian... nenhuma dessas pessoas são mulheres!



Será que assim como Damas de Ferro veio depois da Orquestra Voadora um dia teremos um "Porta de Ferro" com uma equipe de criação mais feminina?!


De volta ao "É Pai, É Pedra". A cena do parto gravamos na Perinatal da Barra, uma maternidade top de linha que sonhava em ter a Serena. Mas nosso parto foi hospital da Aeronáutica, onde seu pai é sargento além de tocar trompete nas horas vagas.


Quando a irmã mais nova da Serena nasceu tinha virado funcionária na globo por tempo determinado. Tinha um plano de saúde que cobria a Perinatal. Fui lá em dois alarmes falsos. Não me senti bem tratada. Mudei de ideia. Não queria mais a parir na Perinatal. Mudei para parto domiciliar...

Minha mãe ficou tensa com essa história de ter filho em casa, mas me passou o telefone feliz para receber os parabéns da afilhada do meu pai que mora em Brasília. Ela disse que sou o orgulho a família, estranhei, mas agradeci!

Essa afilhada fez faculdade de enfermagem, dentre outra especializações. Estudo também com dois filhos pequenos. Ela é uma guru de saúde para família. Ela é marrom. Ela faz parte da equipe de enfermagem e saúde de uma outra mulher importante no Brasil chamada Dilma, nossa atual presidente.





Nesse especial do Fantástico o ator que fez o médico obstetra era marrom: Sérgio Loroza.



Não sabia, mas meses depois daquele set a Brass Band do pai da Serena faria uma turnê na Europa da qual a banda do Loroza também iria. O pai da Serena nunca tinha ido a Europa.

Eu, mulher marrom, agora era mãe. Eu tinha que cuidar da nossa cria. Serena na época era recém nascida, precisava de mim enquanto o pai se ausentaria para ir a Europa com sua banda bronze.

Eu fiquei em casa no Brasil. Até hoje não conheço a Europa. Mas também não conheço João Pessoa, na Paraíba, onde minha mãe marrom nasceu.



Tinha anúncio do Loroza como garoto propaganda num ponto de ônibus perto de casa. Serena sempre que chegava no ponto, o via e ria muito.

Quando o Pai da Serena foi viajar encontramos o Loroza por acaso no aeroporto. Eu me senti a vontade para falar que a Serena sorria muito quando o via no ponto de ônibus. Só que ao vivo a Serena não teve a mesma reação...

Hoje em dia imagino que não era a imagem real que a fazia sorri. E sim aquela imagem virtual que sorridente estava sempre ali, perto de nós. Nem tenho como saber se o fato do Loroza ser marrom influenciou. Porque no quesito simpatia Loroza é hour concour.


Era segunda vez que dividia um set com Loroza. A primeira vez foi num curta metragem passado perto da faculdade que estudei. Meu campus virou notícia quando uma aluna levou um tiro de bala perdida e ficou paraplégica.

Eu tinha 19 anos, estava no primeiro período. Exatamente como a vítima da bala perdida.

Era uma segunda feira de sol. Eu tinha aula de análise crítica de cinema (ou algo assim).  Minha aula naquele dia era no segundo tempo. E o tiro foi no primeiro tempo.

Nem cheguei a entrar na faculdade. Só cheguei e vi o corre corre, não desci da van que fazia o transporte particular entra a Ilha e a faculdade. Lembro que na condução éramos 80% mulheres de diferentes cursos. Lembro de todas muito desesperadas.

Moro na Ilha do Governador, zona Norte, onde tem muitas favelas. Inclusive de facções rivais. Mas nenhuma bala perdida atingiu o prédio que morava, como foi na faculdade. Eu tinha medo de estar ali, na favela onde veio o tiro que atingiu a menina na faculdade. Tinha medo, mas fiquei. Fiquei e produzi o curta.

Nesse curta metragem na favela perto da faculdade, Loroza não era a única pessoa marrom no elenco. A direção do curta era de um homem que não era marrom. Eu mulher fazia a produção. Numa reunião de produção chegamos a hora de falar da maquiagem. E o diretor homem não marrom tinha uma incógnita: pessoas marrons se maquiam?! Eu como mulher marrom representante falei que sim. Pessoas marrons se maquiam...

E eu nem sabia que meu primeiro emprego após a faculdade seria ser produtora dos festivais de cinema da CUFA, Central Única das Favelas.  




Minha chefia eram dois homens marrons: MvBill e Celso Athayde. Os dois dirigiram o principal filme do primeiro festival que produzi lá: "Falcão, meninos do tráfico". Falcão foi um documentário que tinha em cena muitos meninos marrons. A maioria desses meninos não tiveram as mesmas condições acadêmicas que meus pais conseguiram financiar quando eu era também uma menina marrom.

Somos uma família de muitas mulheres marrons. Só tenho tias marrons, meu pai foi o único filho homem e minha mãe só teve irmãs. Somos 5 primas mulheres marrons e 3 homens marrons.   Eles são o Leonardo, Gustavo e Pablo. Um dia Leonardo, o primo mais velho, foi a um baile funk. Lá numa briga foi ferido por um tiro de bala. Leonardo chegou vivo no hospital, mas não sobreviveu ao ferimento. Acho que ele tinha uns 23 anos.

Como no set do curta metragem, eu não era a única pessoa marrom na CUFA.



"Falcão" e "É Pai É Pedra" foram exibidos  no mesmo produto global. É o Fantástico produto capaz de narrar a voz de dois homens marrons de mundo distintos. Seja sobre meninos do tráfico ou sobre  o humor da paternidade. Deve ser por isso que o slogan do programa seja chamado de 'o show da vida'.

Celso escreveu um livro biográfico, do qual fui instruída para roteirizar. Haviam muitos sentimentos naquele livro. E um roteiro se faz de ações. Rascunhei algumas adaptações, trocamos uns emails sobre nossas impressões nos meus últimos dias na CUFA.


Tem um show que Mv Bill faz para Alcione um improviso que gosto muito.


Ele diz: "É você é uma negona de tirar a luva. Se fiz algo de errado te peço desculpa. Mas a Diva do ébano é você, que canta e encanta e não deixa o samba morrer... embalando o sentimento feminino com doçura... sua história vale mais do que troféu". 



Alcione é a Marrom mais Marrom do Brasil!


Já me falaram muito de um salão que cuidam de cabelo de pessoas marrom. Na lógica da Rapunzel  esse outro salão não tem um mito marrom para ser seu nome. Assim suas donas, provavelmente marrons, o chamam de Beleza Natural.

Muita gente diz que o Beleza Natural deu auto-estima às mulheres, mas tenho minhas reflexões.

Por exemplo, mesmo sendo conhecida como " a marrom" a Alcione não foi emblemática o suficiente para ter uma rede de salão do porte do Beleza Natural. Já Rapunzel é só mais um mito da vaidade que um salão de beleza pode provocar em seus paradigmas comerciais...

Eu tenho uma teoria de que auto-estima vem de auto-valor. E vaidade é só uma alegoria que muitas vezes é sexista. Auto-estima e vaidade não são sinônimos. 

Não tem nenhuma filial do Beleza Natural onde moro. E o Rapunzel é bom e bem prático. É perto da escola da Serena. É perto do supermercado onde faço compras.

Não sei se é um paradoxo a Serena ter toda a família marrom, mas não vê tanta gente marrom nos lugares que vamos. Talvez por isso que o cabelo amarelo gere tanta curiosidade. E no quesito de curiosidade, talvez seja eu bem mais curiosa do que minha filha mais velha.


Enfim, deixei a CUFA para fazer a Oficina de Continuidade na Rede Globo. Quando parei de alisar quimicamente meu cabelo, estagiava em "Sete Pecados" em 2007. Novela dirigida por um homem e tinha como assistente uma mulher. Ele Jorge Fernando e ela Ana Paula Guimarães (Catu).


Por causa do meu cabelo Jorge me apelidou de coqueirinho e até hoje sou chamada assim pelo pessoal de sua equipe que voltei a conviver em "Guerra dos Sexos". Uma novela remake que questionava a autonomia feminina. Essa novela foi escrita por um homem. Das 4 pessoas que assinavam a direção só uma era mulher. Era a antiga assistente de Jorge, Ana Paula Guimarães(Catu). Ela trabalha desde muito jovem, começou como uma das assistentes de palco do Show da Xuxa. Assim como minha coordenadora da pós, Ana também constrói seu legado profissional tendo duas filhas pequenas, com idades próxima a Serena e sua irmã.



E foi em "Sete Pecados" conheci Thalma de Freitas, atriz coadjuvante do núcleo cômico da novela. Ela era uma anja negra. Uma anja que me perguntou o porquê de eu alisar meu cabelo. Não consegui responder uma pergunta tão simples...

Naquele 2007 ainda não era tão comum o black power, mas Thalma já usava! E eu fiquei curiosa em conhecer meu cabelo. Não sabia como ele era. Na infância ele era do tipo joaozinho e na juventude alisado quimicamente...




Nunca mais trabalhei com a Thalma. Ela nem sabe, mas sua voz de anjo me acompanhou no parto domiciliar da MelPaz, irmã mais nova da Serena. Era uma linda versão sua de Cordeiro de Nanã que fez parte do playlist do plano de parto.


Conheci essa música como tema da protagonista de uma novela das 8, interpretada pela Carolina Dickeman. Gravei com a Carolina em Joia Rara grávida da irmã mais nova da Serena.

Em Joia Rara revi um calouro meu da Escola Técnica de Comunicação, o Bruno Glagiasso. Quando nos conhecemos Bruno fazia Chiquiticas uma novela no SBT. Agora em Jóia Rara ele era pai da protagonista e eu fui dar apoio grávida como continuísta.

Joia Rara era dirigido por uma mulher, Amora Maltner. A sua assiste também é uma mulher. Uma antiga colega da faculdade que fez comigo o curta metragem passado na favela. 

Joia Rara também foi escrito por mulheres. Uma das autoras disse se inspirar em Tarantino. Amora disse que só não tem um caso de amor com elas porque ambas gostam de homem. ( http://televisao.uol.com.br/noticias/redacao/2013/08/19/diretora-de-joia-rara-diz-que-so-nao-tem-caso-com-autoras-porque-gosta-de-homem.htm ).

Em Joía Rara também conheci a Cacau na novela era coadjuvante, mas na escola de samba do bairro onde moro: ILHA, Cacau foi protagoista da comissão de frente. O enredo foi sobre beleza.



Um dos sambas mais famosos da União da Ilha diz: "A minha alegria atravessou o mar e ancorou na passarela... Diga Espelho Meu se há na avenida, alguém mais feliz do que eu... "

Versão do Monobloco com Loroza nos vocais


Mario Sérgio Cortella tem uma definição que amo: âncoras só te prende a um lugar, raízes te alimentam!

Entre âncoras, raízes e espelhos espelhos meus o meu cabelo está de chapinha, pode?! Foi um momento mudar visual pós separação. As separadas de todas as cores devem me entender, eu acho... Ainda assim eu continuo sem química, é só molhar que meus cachos voltam.  Essa minha abstinência a química capilar provoca certo paradoxo compreensível lá no Rapunzel.



Eu de black power amarelo e preto, de tranças e lisa!





Ano passado, quando me separei, programei 7 meses antes que o tema da festa da Serena.



O tema era a fada marrom que  acompanha a Sininho. Aquela fada da terra do nunca que tem cabelo amarelo.

Na terra do nunca cada fada tem um poder diferente. O poder da Sininho era de ser fada artesã. A coadjuvantes tinha uma fada para cuidar das flores, dos animais, da água, da velocidade. E a fada de vestido amarelo e de pele marrom cuida da luz. Esta fada foi a protagonista na festa da Serena.

Eu dei a luz a MelPaz, irmã mais nova da Serena, 13 dias antes do seu aniversário. Tive problemas no pós parto. Além do estresse do fim do casamento. Eu estava internada no dia do aniversário da Serena. E decidiram fazer a festa foi feita sem mim, não aguardaram minha alta.







POR ISSO NÃO TENHO FOTOS PARA POSTAR DESSE DIA!!!







Na festa da fada da luz como protagonista, eu mulher fui ofuscada enquanto mãe. Lamento não ter ido a esta comemoração, torço para que isso não se repita.




De volta para hoje!

Faltam 2 meses para aniversário da Serena desse ano. Ela quer o tema Frozen. Ainda não sei se a decoração será marrom ou amarelo. Independente da cor, gosto da premissa de Frozen.

No filme o amor verdadeiro tem poder heróico sem ser associado ao sexo-afetivo. Além do fato de que Serena e sua irmã mais nova fazerem aniversário perto e deve ter só uma festa. E em Frozen as protagonistas são duas irmãs...

Serena Elsa, duas irmãs mais velhas, Alter ego ou alterego (do latim alter = outro ego = eu) é um termo cunhado por Freud para conceituar coisas que estão no Ego de uma determinada pessoa. As quais podem ser transferidas para uma outra, que passa a funcionar como se fosse uma duplicata da primeira pessoa.#somostodosidentidadepersonalidade ♡ 



Mostrei a Serena uma montagem da protagonista como marrom que achei na internet. A princípio ela respondeu que aquela não era a Frozen. Como alternativa pensei em fazer a decoração com fotos das duas vestidas de Frozen. Porque a Serena e sua irmã mais nova fantasiadas de Frozen podem ser marrom.

Esse texto era curto, eu juro! Era uns 5 parágrafos sobre a Frozen Marrom. Aos poucos fui lembrando outras coisas e ele cresceu e deve estar com mais de 10 páginas. Nisso Serena me viu no computador muitas vezes com a foto da Frozen Marrom. E hoje ela afirmou: "-Olha mamãe é a Frozen marrom!".

Um dia na casa do meus pais, televisão ligada no tv fama (aquele programa de fofoca da rede tv). Matéria sobre os 15 anos da fillha do Carlos de Nóbrega da praça é nossa(?!). Eis que Serena fala?! "-Olha mamãe parece a Frozen". Eu fui decupar a cena. Hora da tradicional dança dos 15 anos. Tinha uma iluminação em tons azuis. E a menina nem tinha cabelo amarelo usava um vestido de baile.

Aos olhos da Serena algo estava sendo reprojetado com a Frozen.



O que me intriga em Frozen nem é o amarelo quase branco de seu cabelo e sim a tradução para português de sua trilha sonora principal. Ela canta "livre estooooou, livre estou..." numa sequência que ela se isola e recria um mundo só para ela com seus poderes especiais.




Há quem chame isso de anorexia social, o mau da desnutrição. Anorexia é uma doença. E doença não escolhe cor...

Um dia Serena falou que o cocô também era marrom! E seu avô, meu pai, ficou preocupado em esse marrom que fede ser comparado a nossa família. Mas um outro dia Serena ganhou aqueles chocolates super coloridos tipo M&Ms. E adivinhem o que ela falou?! "-Mamãe o chocolate por dentro é marrom, sabia?!". Pena que apesar de estar na casa do meus pais, meu pai nem ouviu o comentário dela. E nem pode perceber como eu percebi que ela também vê o nosso marrom como um gostoso doce. Somos uma família que teve o privilégio de construir uma bagagem que não preço, fazemos intercâmbio entre o cocô e o chocolate. Imagino que tem muitas famílias marrons que nem consigam financiar uma simbólica comemoração de aniversário quem dirá se preocupar com a cor da decoração. Talvez por isso ou por causa do meu ranço mãe autoral desenvolvi uma tese...

Tese baseada na jornada do herói, https://pt.wikipedia.org/wiki/Monomito !!!


A jornada do herói começa com ele em seu mundo inicial, depois uma ruptura acontece e um chamado o tira desse mundo. Em "Frozen" vejo castelo de gelo de Elsa como um cruzamento desse primeiro portal é o início de sua jornada de aventura. Porém, a versão brasileira da música constrói um subtexto daquela ruptura ser meta atingida quase um final feliz e não um processo.


Caso eu fosse da equipe desse roteiro deixaria a música para tocar no final, no regresso do herói ao seu mundo. Quando o amor verdadeiro a liberta para conviver com todos, sendo ela mesma e sem se isolar num mundo a parte.


Há um filme chamado Home em que a protagonista marrom parece com a Serena, mas ainda não vimos esse filme.




Acho que vou perguntar ao professor de música se ele já viu Home, depois desse post fui procurá-lo no facebook para sermos amigos. Descobri que ele também tem um blog  http://www.cleohenrique.blogspot.com.br/ .


#acaradamãe2015voltamos 
♥♥♥♥♥
Convido vocês após a leitura fazerem um exercício. Dar play nessa música e passar no slide as fotos em sequência de trás para frente. Começando com Home e terminando comigo grávida. 

Não sei se vão gostar, mas Serena e sua irmã gostaram! 

Serena agora canta em inglês o refrão. Acho que vou falar para a Tia o Inglês ter uma aula dupla com o Tio da Música e re-apresentarem o Happy Day a Serena!

Lembrei que a primeira vez que fui ao cinema foi para ver o combo xuxa-trapalhões. E que meu primeiro filme de gente grande foi justamente o "Mudança de Hábito"...

Ooooooooooooh, happy day!
;)